sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Analfabetos na Base, e Letrados de Elite.



 Uma das marcas de nossa história é a convicção generalizada no pensamento da classe dominante de que a elite já nasce sabendo e que o resto não precisa saber. Assim foi e continua a ser a relação do senhor e do escravo, do latifundiário e do camponês, do empresário e do operário, da elite e do resto. Por isso, ao longo do tempo, gastos com educação nunca foram considerados investimentos produtivos. Por isso, a política do Estado foi sempre de produzir analfabetos na base, e letrados de elite. Mesmo quando realiza “gastos”, o faz de forma invertida, entrega o básico para os municípios sem recurso e investe no nível superior que, subdesenvolvido, serve a não mais, e se tanto, que 5% da população.
  Qualquer balanço honesto que se faça da educação no Brasil deve concluir por uma situação de calamidade pública. Ela tem a ver com uma visão atrasada e autoritária de desenvolvimento da sociedade. Desenvolvimento sem inteligência, sociedade somente para poucos. Quando se comparar o Brasil com outros países capitalistas, o absurdo fica ainda maior. O Japão, considerado o exemplo moderno de desenvolvimento capitalista, investe pesadamente em educação, cerca de 40% do total dos gastos públicos. Nos Estados Unidos, uma das medidas do seu estado de saúde, na competição internacional, é a verificação do estado da educação, onde se investe pesadamente. Qualquer que seja o modelo de desenvolvimento, independentemente de sua ideologia, ele se fará através das pessoas e daquilo que elas forem capazes de realizar a partir de si próprias. Essas capacidades são elaboradas e transmitidas, socializadas, através da educação. Por isso é que os gastos com educação são um investimento produtivo
estratégico em qualquer país sério. No mundo moderno o processo produtivo torna-se cada vez mais sofisticado, exigindo trabalhadores capazes de um desempenho equivalente a todos os níveis. Por mais que a automação prometa um mundo sem trabalhadores diretos, a verdade é que o produtor, num sentido genérico é insubstituível. Num país como o Brasil, onde estamos longe desse nível de desenvolvimento e onde milhões de pessoas não encontram lugar e função no processo produtivo formal, fica ainda mais evidente o caráter estratégico da educação para o desenvolvimento. Não investir na educação é, portanto, uma opção pelo subdesenvolvimento.
   A educação é também um investimento na democratização da sociedade, na medida em que possibilita a cada aluno integrar-se no processo social, cultural e político.
   Democratizar o conhecimento, a informação é uma forma de produção social da cidadania. Não investir na educação é também uma opção pelo atraso e o autoritarismo.
   Ao longo das últimas décadas assistimos à realização perversa dessas opções que transformaram o Brasil num país rico, habitado por pobres e marginalizados. Na educação, assim como na saúde, a estratégia foi simples eficaz. Investir o mínimo possível no sistema público, que atente às populações de renda baixa. Oferecer todas as regalias e estímulos ao sistema privado, que atende as elites.
   Se o Brasil continuar seguindo este caminho, com seu discurso privatista, encontrará o campo aberto para completar a obra de seu antecessor. Se decidir pelo ensino público, universal e gratuito terá que abandonar sua crença neoliberal e investir decididamente num sistema que agoniza à espera do golpe final ou do balão de oxigênio.
   Na educação também estará sendo decidida a sorte do desenvolvimento e da democracia.

Pr. Marcelo da Costa
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